quinta-feira, 4 de abril de 2019

Combine Painter  Evandro Aguiar
Arte contemporânea - Arte conceitual


O Filme: Aqui passa o seu filme, o filme da sua vida.

Obra produzida em Arraial do Cabo - RJ | ano 2000 | Combine Painter 38x50cm
Tinta acrílica, gesso acrílico, rolo de vídeo VHF, cilicone sólido e 
recipiente de plástico da KODAK colado sobre tela armada.


Com pretensões de representar sobre a tela a ideia de cinema individual (lembranças de fragmentos da vida percorrida no espaço tempo). Iniciei esta obra na tentativa de convidar o espectador a percorrer com sua mente o meu filme particular, projetado num fundo em tons azuis com a imagem da face da "Mulher Amazônia" representada pela obra que deu origem a série "Faces" em Portugal. Continuo desta maneira, meus caminhos na arte, representados em variados meios e suportes. Desta forma, o espectador é convidado a percorrer subjetivamente aquele que é poeticamente o seu filme. Portanto, pretendo que as pessoas ao olharem para o quadro, imediatamente tenham a reação de tentar entendê-lo, quando na verdade só precisarão olhar para si próprios. 
      
O Filme refere-se aos momentos de suas próprias vidas. Uma espécie de auto-biografia instantânea ao olhar para a tela, onde verão que o sentido da obra de arte, não encontra-se nele... no quadro que representa o significante, a obra materializada, mas sim, no significado imaterial da obra que encontra-se na mente do espectador, onde projetará ou identificará na sua tela imaginária o que quiser. Remetendo-o às lembrança de suas imagens fragmentadas com recordações particulares, a começar pela sua infância perdida.
    
Para que possamos entender o mundo de maneira existencial, pensamos imediatamente nas necessidades  de sobrevivência. Entretanto, precisamos analisar o que chamamos de necessidades existenciais em todos os aspectos. Segundo o filósofo, escritor e poeta francês Paul Valéry, a superioridade do homem sobre os restantes seres da natureza é devido aos seus pensamentos inúteis. Contudo, sabemos que o mundo real é composto por diversos fatores e valores existenciais, fundamentais e essenciais como: Alimentação, higiene pessoal vestimenta, água, dinheiro, moradia, entre outros produtos. Porém, para que os resultados destas composições transcendam  num ser em constante evolução, juntamente com o seu mundo. É necessário uma visão crítica e um árduo mergulho em sua vivência mundana, aliados aos peculiares métodos de pesquisas cientificas, filosóficas, antropológicas, empiristas (relacionadas ao senso comum), associadas às inovações tecnológicas da informação e do conhecimento. Pois, o que seria do mundo sem a contribuição da humanidade para torná-lo agradável e com nossas necessidades compensadas em todas as áreas, fazendo do ócio criativo, uma permanente busca para a evolução do ser através de suas experiências.

O homem necessita da arte à medida que evolui. A humanidade não sobreviveria sem a arte, ela está presente em tudo, até mesmo enquanto escrevo este texto. Um simples olhar e pronto, vemos a arte nas arquiteturas dos edifícios, designs de interiores, automóveis, aviões, vestimentas, objetos móveis e em infinitos produtos industriais destinados ao consumo. Tudo é criado e projetado pela mente humana, e, segundo o matemático e filósofo Protágoras, "o homem é a medida de todas as coisas". Sendo assim, não só estes "produtos" materiais, como as lembranças fragmentadas guardadas na memória são partes que se encaixam em toda uma vivência que, apresentam-se em constantes mudanças. 

Vivemos numa era em que pessoas materializam coisas, onde só existiam em estudos e teses elaboradas por gerações que só sonhavam e registravam em seus livros particulares, para que no futuro fossem colocados em prática suas criações. É notório que nos dias atuais vemos materializados muitos inventos que no passado, seus autores eram considerados insanos, devido ao fato de não conseguirem fazer com que seus contemporâneos percebessem o futuro que hoje vivemos, graças as suas visões. Afinal, o que teria sentido no mundo atual se no passado, o ser humano dotado de espírito empreendedor, sonhador e evolutivo, não colocasse em prática seus pensamentos considerados "inúteis".

Habitamos em um mundo pós-moderno, interagindo com uma evolução cada vez mais rápida. Afinal, nossos cérebros evoluem na mesma proporção em conjunto com a arte do momento, a tecnologia digital. Sabe-se que hoje, tudo é levado por esta inovadora transformação, embora, esta ferramenta seria considerada  uma inutilidade para nossos precedentes distantes. Para que adiantaria a tecnologia se, não teria onde utilizá-la? Para que o homem lidaria com uma "coisa" que não compreendesse? Entretanto, hoje existem respostas para quase todas as dúvidas e a certeza de que precisamos a cada momento, da bela ferramenta denominada "arte". 

A humanidade é considerada a maior obra de arte em constante interação com o mundo, e, suas lembranças repassadas e projetadas constantemente no filme de sua vida. Tudo isso através da mais perfeita máquina de projeção cinematográfica de todos os tempos... sua própria mente (cérebro). Desta forma, projeta-se no quadro exposto, o filme imaginário da sua vida com suas maiores informações de lembranças guardadas em películas inacessíveis aos outros, mas apenas o mesmo (espectador), tem a chave deste cine prive para revivê-las e torná-las ativas.

As transformações tecnológicas promoveram modificações em todos os ambientes das telas de projeções dos cinemas do passado, sobretudo relacionados aos efeitos visuais e sofisticações dos suportes envolventes, fazendo com que o público sinta-se parte integrante do próprio filme, através dos seus efeitos em terceira dimensão. A analogia com a representação da obra "O Filme", refere-se aos encantos e nostalgias do tempo vivido no passado, transportado de forma moderna com a possibilidade de rever os melhores momentos imaginariamente projetados nesta tela, integrando assim, o observador a obra de arte na tentativa de proporcionar a interação completa com seu público.

Com este trabalho, pretendo contrapor a arte e o símbolo maior da indústria cultural (o cinema) como o melhor meio e suporte para passar a ideia de comunicação massificada disseminada por um veículo manipulador de ideologias, e que foi criticado pelo seu mal uso, segundo as colocações dos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, fundadores do Instituto de Pesquisa da Escola de Frankfurt, a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista. Sendo esta, a base da teoria crítica (transformação da arte em mercadoria) postulada na Escola de Frankfurt. 

No quadro "O Filme", trabalho com a liberdade proporcionada através da arte contemporânea e transmito a ideia do meu pensamento projetado na tela do cinema pessoal. Uma provocação ao espectador, com a demonstração do filme da minha vida. Todos têm sonhos e filmes particulares em suas mentes... qual é o seu sonho ou filme?


Citação: "Comparemos a tela sobre a qual se projeta um filme com aquela usada em uma pintura. Esta última convida o espectador - que pode se abandonar à livre associação de ideias - à contemplação. Isso já não é mais possível no filme (em referência ao cinema). Mal uma imagem é percebida, já se altera; não pode ser fixada". 
Autor: Walter Benjamim. 
Ensaio:  A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. 


Detalhes da obra: Gesso acrílico como primer | rolo de filme de vídeo VHF | recipiente plástico da KODAK colado sobre tela armada | acabamento com tinta acrílica em azul, como representação de uma tela de projeção de cinema. 





Evandro Aguiar ao lado de sua obra "O Filme"
Artista Plástico | Designer | Publicitário com MBA em Marketing e Comunicação Empresarial




Evandro Aguiar
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